O ATOR-MANIPULADOR E O BONECO
O objeto por ser inanimado, necessita do contato físico com o ator-manipulador para que ocorra uma transferência de energia e esse se torne vivo. O objeto (nesse caso específico o boneco) é algo morto, não possui vida, porém, essa vida lhe é atribuída quando é manipulado. Existe aí uma relação entre vida e morte, coisas opostas que interagem para que o teatro de animação ocorra.
Há uma preocupação da parte de alguns manipuladores em tornar cada movimento do boneco mais próximo do real. De acordo com a revista Móin-Móin, o boneco ao representar seres humanos, em algumas ocasiões, não é tão preciso quanto o ator, porém, esse aos olhos de alguns supera o ator ao representar corporificações de ideias (arquétipos). Todavia é necessário que fique claro que o objeto não tem a finalidade de ser uma representação exata da realidade. Para Meyerhold, não havia sentido o boneco tentar representar o real, pois o ator já faz isso.
O ator ao está em cena não deixa de ter sua própria energia, vida racional, consciência corporal, emoções, personalidade e etc. Segundo Émile Copfermann, o ator não é de fato o personagem, apenas o representa, enquanto tenta ser o personagem o ator não perde a consciência de si e pode acabar se traindo ou traindo o personagem. Entretanto o boneco é de fato o personagem.
Em uma cena teatral quando o ator está visivelmente em cena sua figura pode ser facilmente confundida com a do personagem. Ao interpretar com o uso do boneco, o ator tem sua figura neutralizada na cena; ocorre para o público um distanciamento entre ator e personagem, causado pela imagem do boneco. Entretanto o boneco não aniquila definitivamente o ator da cena.
Meyerhold se encantava com a expressividade corporal do boneco. Usava o boneco como referência para os seus atores. De acordo com o Igor Iliinski, "Meyerhold, apreciava altamente a expressividade do corpo. Fazia demonstração com um boneco de guinhol: introduzindo os dedos, obtinha os efeitos mais diversos. Apesar da sua máscara parada, o boneco exprimia quer a alegria - os braços abertos - como a tristeza - a cabeça caída, ou ainda o orgulho - a cabeça inclinada ". Para Meyerhold, a emoção vinha pela ação, o estímulo para a chegada das emoções desejadas seria os movimentos que o ator-manipulador fazia através do boneco.
Para Arthur Simons, Gordon Craig e William Butler, o boneco tem certas vantagens sobre o ator, pois esse está sempre a mercê de seus impulsos pessoais, ao passo de que o boneco por ser inanimado é mais apto para retratar ideias gerais e universais.
De acordo com a Revista Móin-Móin, em meados do século XX, alguns teóricos e encenadores, como: Alfredo Jerry, Adolfhe Appia, Gordon Craig, entre outros, visavam quebrar com a ideia do naturalismo. Pois, o naturalismo tende a reproduzir a vida exterior banal e limitada, deixando de lado parcelas importantes da experiência humana: o sonho, a imaginação, a fantasia, a vivência exterior. Para tentar expor essa outra realidade, bonecos, máscaras e objetos eram utilizados.
Tais teóricos acreditavam que o ator-manipulado fosse o “ator perfeito". O ator que tem a capacidade de criar dentro da linguagem teatral algo além da realidade vivida, utilizando-se de algo não convencional. É o ator que representa sem unir suas emoções e personalidade com as do personagem. Aquele que se propõe a fazer uma pesquisa corpórea, que tem consciência corporal, flexibilidade, força e habilidade para manusear qualquer estilo de boneco e resolver de forma rápida qualquer problema na cena.
Contudo, Luiz André Cherubini, diz: "o boneco não tira nada do ator, ele lhe oferece outras linguagens, outras formas de comunicação, dar ao ator muitas possibilidades".
Referências Bibliográficas:
Móin-Móin. O ator no teatro de formas animadas. Jaraguá do Sul: SCAR/UDESC, volume.1,2005
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